SEJAM BEM VINDOS!!!


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Outra crônica de Laura Medioli


Couves, mangas, flores e... deixa pra lá!
Se fosse para eu viver de vendas, estaria lascada. Definitivamente, essa não é minha área. Não por falta de experiência, afinal, desde menina procurei vender meu peixe, minhas couves, mangas etc.
Explico: tínhamos em nossa horta uma plantação grande de couves e alfaces. E eu, com meus 9, 10 anos, resolvi me encarregar das couves, regando-as, desgrudando ovinhos de borboletas (umas coisinhas minúsculas e bonitinhas de cor amarela), tirando larvas, jogando esterco. Diariamente, ia conferir minha plantação. Quando o canteiro ficou repleto, resolvi vender o excedente para uma mercearia, cujo dono era amigo de minha mãe. O problema é que eu morava na Pampulha e a tal mercearia ficava no bairro de Lourdes. Amarrava alguns molhos escolhidos a dedo e ia com o senhor
Artur (antigo motorista da casa) levar as couves. Voltava para casa cheia de moedinhas, guardadas em um porco de cerâmica ou gastas no primeiro baleiro que encontrava no caminho. Mal sabia que a gasolina consumida para chegar ao local valia bem mais que as moedas adquiridas.

Na mesma época, eu e meu primo montamos uma barraquinha de frutas caseiras no ponto de ônibus em frente à nossa casa na Catalão - avenida recém-construída e bastante empoeirada. A universidade estava em obras, e a "freguesia" era enorme. Tinha dia que nosso estoque de mangas, goiabas e jacas ia todo embora. E foi por causa de uma jaca que eu e meu primo nos desentendemos. Fechamos a barraca e nunca mais vendemos frutas.

Mais velha um pouco, fui vender flores e plantas na flora de meu irmão. Como não sabia o nome das plantas e só podia ficar meio horário, acabei virando uma espécie de office-boy. Fila de banco era comigo mesmo. Com 15 anos, mas com cara de 10, fazia sucesso entre as bancárias. Achavam lindo aquela pirralha, cheia de documentos e cheques na mão, explicando direitinho o que queria. Lembro-me de que uma sempre chamava a outra para ver:

- Olha só que bonitinha! Desse tamanhinho e já trabalhando.

Só faltava passarem a mão na minha cabeça e me oferecerem pirulitos. Falavam isso achando que me agradavam, e era justamente o contrário. Odiava ouvir esses comentários, essa série de "inhas" com que normalmente referiam-se a mim. Bonitinha, engraçadinha, pequenininha, meiguinha... Com 15 anos eu queria mais era ser bonitona, altona, sexy e por aí vai. Acabei me acostumando com os "inhas" e hoje, para ser sincera, dou graças a Deus. Tanto que, antes que minhas filhas, cada uma mais "inha" que a outra, comecem a reclamar, já vou logo dizendo:

- Meninas, agradeçam a Deus. Desse jeito vocês vão custar a envelhecer! Felizmente, isso, para elas, é uma questão bem-resolvida.

A flora foi vendida, e eu, para ocupar meu tempo, entrei como voluntária numa creche mantida pela paróquia do bairro. Passava a tarde rodeada por crianças berrando e sujando as fraldas. Minha missão era distraí-las e não deixá-las saírem do espaço determinado pelas coordenadoras. Apesar do tamanho, eram espertíssimas. Lembro-me de que ficava exausta de tanto correr atrás. Era menino pendurado na cerca, comendo terra dos vasos, se engalfinhando com outros, e eu lá, uma quase menina cuidando de outros. Eles me adoravam, e era recíproco. Fiquei ali alguns meses, e, como na escola, as coisas estavam se complicando pro meu lado, nas matemáticas da vida, saí.

Depois, fui trabalhar com outro irmão e seu sócio numa firma de casas pré-fabricadas. Comecei como arquivista e, claro, "office-boy". Pelo jeito, o meu destino eram as filas quilométricas dos bancos. Vivia no ônibus pulando de um banco ao outro com a melhor cara do mundo. Trabalhava meio expediente e achava ótimo. Acabei como secretária, responsável por correspondências datilografadas, envio de telex, arquivo etc. Veio a crise, e a empresa fechou as portas. Dediquei-me mais aos estudos, aos estágios, às aulas de inglês e italiano e, posteriormente, às faculdades (fazia duas ao mesmo tempo).

Não lembro bem em que época, mas, incentivada por uma amiga, ainda menina, encontrei-me de novo às voltas com as vendas. Foi numa página de pequenos anúncios que li: "Produto de alta aceitação no mercado precisa de vendedoras - não é necessário experiência". Uau! Isso foi feito pra mim. Arrumei-me toda, salto alto, batom vermelho para aparentar mais idade e fui atrás do tal produto. Meio decepcionada, saí com uma sacola na mão carregando a coisa mais boba e inútil do mundo: medidores de gás - umas geringonças desmontáveis que, acopladas ao gás de cozinha, apontavam quando este estava acabando. E eu, mais boba ainda, saí na rua com aquilo, oferecendo a quem encontrava pelo caminho. Lembro-me de que entrei num apartamento na Savassi e toquei a campainha, quando um garoto lindo e com cara de sono atendeu. Sem graça por tê-lo acordado no meio da tarde, ainda mais para vender medidor de gás, me saí com esta:

- Oi! Essa é a casa da Ana?

Naturalmente torcendo para que não houvesse nenhuma Ana. Felizmente, não havia. Peguei minha sacola e, com os pés doendo de tanto andar, voltei pra casa. Entendi que não servia para vendedora, nem de medidor, nem de gás, nem de coisíssima nenhuma. Três dias depois, devolvi os produtos. Ah! Esqueci-me de dizer: vendi um. Pra minha mãe.

Mais uma crônica de  Laura Medioli

13 comentários:

Lucinha disse...

Leninha,

Será que ela desistiu de ser vendedora? Risos Bem, mas o importante é a mensagem que foi passada. Afinal, não podemos desistir logo nos primeiros obstáculos. Só que ela demorou pra descobrir isso. Rs

Acho que ser vendedora também não é meu dom. Sou boa compradora. Calma, não sou gastadeira; sei analisar preços, condições, custo benefício etc.

Tenha um lindo dia!

Beijos

Ivani disse...

bom dia! hoje por aqui tem sol!
faz frio, mas com sol, e eu adoro isso!
Leninha querida, que cronica deliciosa. Não conhecia a autora, adorei o modo alegre que ela escreve.
Faz um bem danado começar o dia lendo coisas divertidas.
Quanto ao Ruy castro com seu texto sobre a melhor idade eu já conhecia, e acho o máximo.
Ele também tem um estilo bem saboroso, e pensando bem, é disso mesmo que precisamos. Escritores que passem otimismo e alegria.
Laura Medioli é uma delas, amei e espero que voce publique outras.
Tenha um lindo dia querida, tomara que por aí esteja sol também. Chega de nuvens cinzas. Beijos.

Anônimo disse...

Leninha, bom dia com um cházinho de camomila... mesmo sem esquentar muito, mas acalma meu estômago...rs

Adorei essa crônica, me identifiquei com ela em vários pontos, especialmente o da escola, rsrs... agora quanto a vender algo, ela foi super bem, eu se tentasse vender qualquer coisa, tudo viraria presente... e ainda faria lindos embrulhos... não sei vender nada, e na verdade nem gosto...

Uma crônica alegre e que me distraiu o pensamento nessa manhã geladinha de quinta feira... mais um dia de férias com esse resfriado danado...rs

E assim os dias vão passando...

Beijos no coração...

Su.

Unknown disse...

Bom dia!!!
Tudo que é belo faz a gente feliz e visitar vc é uma delas a felicidade está junto dos amigos
Abraços carinhosos, com essa bela postagem que faz a alegria do meu dia!!!
Bjusss pelo prazer de ter vc no meu cantinho
Rita!!!!!

Ilca disse...

Olá minha querida Leninha,
Que linda postagem! Gostei muito dessa crônica, uma bela lição de persistência e força de vontade, com uma pitada de humor... muito boa!!

Muita luz, sempre!
Um grande abraço cheio do meu carinho.

Eloah disse...

Também nunca tive a capacidade de vender.Até tentei, mas não sei cobrar.Cada um com o dom que lhe é peculiar.
Querida tenhas dias ensolarados.Bjs Eloah

chica disse...

Rss,,,Ela não dava pra coisa,rs Linda! beijos praianos,chica

O meu pensamento viaja disse...

Adoro estes relatos resultados de vivências. Muito bom!
beijo

Pedro disse...

Olá Leninha,
Obrigada pela visita e o comentário carinhoso no blog da tia Su!
Com carinho
Pedro
http://mpequenoprincipe.blogspot.com.br/

manuela barroso disse...

Uma história de vida e que nem todos temos as mesmas competêncas.
Bom fim de semana. Leninha
terno abraço

R. R. Barcellos disse...

A Laura evoluiu... de vendedora de couves a vendedora de crônicas, finamente trabalhadas.
Abraços.

Fanzine Episódio Cultural disse...

UM NOVO AMANHECER

Comparo sua beleza
A de uma rosa que desabrochou
Espalhando sementes
De um novo amanhecer.

(Agamenon Troyan)

Anônimo disse...

A Laura e suas histórias,sou fã pq me deram foram em uma época muito difícil empregada doméstica do interior sabia nada e passava cada humilhação na casa dos outros,minha única companhia era o jornal que ficava ansiosa pra chegar o dia de ler as histórias da Laura pra me sentir melhor