Laura Medioli
Publicado no Jornal OTEMPO em 08/05/2012
A
A
Sob véus do passado
Mais uma vez, olha a fotografia em sépia em que uma moça bonita de olhar profundo lhe sorri.
Moça que, aos 17 anos, saiu da fazenda para a cidade. Iria se casar. O noivo, nove anos mais velho, filho do amigo do pai. Gente de posses, família renomada, de boa índole, como gostava de dizer a mãe chorosa e antecipadamente saudosa da única filha, que iria partir.Menina-moça, mais menina que moça, acometida de inquietações, curiosa sobre o jovem a quem, tão logo conheceu, já fora prometida.
- Mãe! Como irei me casar com um homem que vi apenas uma vez?
Deixar a casa, a família... Viver com pessoas que nem sequer conhecia?
Inutilmente, tentava fugir do destino que haviam lhe reservado.
Na mala, os poucos pertences. A camisola de cambraia branca, com rendas e botõezinhos em forma de flor.
- Esta é para a noite! - explicava a mãe, cheia de recalques na hora de dizer certas coisas. Ruborizada, sentou-se no quarto da filha, explicando a ela o que nunca soube quando se casou; assustada, saiu correndo do quarto e do pobre marido, 15 anos mais velho.
Também na mala, o diário escrito desde que se aprimorou no jogo das palavras. Sua vida tranquila, ajudando nos afazeres, a escola para moças na cidade mais próxima, as colheitas, o curral... As aulas de religião, bordado, francês e latim. Mesmo morando no "fim do mundo", desses caprichos o pai não abria mão.
Tantos anos se passaram, e o diário, castigado pelo tempo, assim como a fotografia, foi o que restou. O sorriso enigmático, perdido em dúvidas e ansiedades. O vestido de noiva feito em linho, os seios despontando tímidos sob os véus que lhe adornavam os ombros.
A jovem não entende por que a história de sua trisavó, escrita em letras miúdas, lhe atrai tanto. Guarda o diário como o bem mais precioso. Não somente os cabelos castanhos, mas também o delicado nariz e os olhos profundos se assemelhavam aos seus. Mas foi nas letras miúdas que descobriu as maiores semelhanças, a melhor herança...
No dia de se casar, sozinha em seu quarto, passeou os dedos sobre o vidro opaco que, há uma eternidade, protegia aquele rosto bonito.
Outros tempos, outro contexto. Nenhuma expectativa ou medo da "primeira noite", pois, intimamente, ela e o noivo há muito já se conheciam. Sua camisola, confeccionada em seda, nada de rendas e botões floridos. Não se mudaria para a casa da sogra, mas para a sua própria.
Não falava francês, não entendia latim, odiava mato e cheiro de esterco e, mesmo assim, no âmago da alma, sentia, claramente, que aquela moça, vinda de longe e da mesma origem, havia renascido nela. Sabia que era maluquice, por isso, nunca compartilhou sua certeza com ninguém. Olhou-se no espelho, ajeitando a grinalda de tule. Deu um sorrisinho bobo, sabendo que sua escolha era a mais certa. E que seu destino seria tão denso e promissor como o da mulher que a despertou para a vida. E, assim, feito ela, seria feliz, muito feliz!
LAURA MEDIOLI escreve no Magazine às terças-feiras. laura@otempo.com.br
Um texto que eu gostaria de ter escrito.Muito lindo!!!
Espero que gostem,amigos.
Um texto que eu gostaria de ter escrito.Muito lindo!!!
Espero que gostem,amigos.
13 comentários:
E foram felizes para sempre!
Muito lindo.
Beijo
Lindo!Também eu gostaria de ter escrito um texto tão encantador e delicado.Parabéns pelo lindo Post.Bela escolha.
Tenhas dias ensolarados.Bjs Eloah
Gostei Leninha
Uma crônica rica em detalhes e com aquela ternura próprio do primeiro amor.
Obrigada da partilha
Fique bem , deixo meu abraço
Quem seria mais feliz? A moça de hoje ou a de ontem?
Já temos as resposta.
Mas será que a de hoje arca com o peso de tanta novidade, e tendo que fazer tudo ao mesmo tempo?
Beijos querida.
Leninha fiquei muito feliz com sua visita ,já sigo aqui...
O texto é lindo....
Beijos de luz,,,,
Outros tempos, outras atitudes, outras certezas.
E os encantos deixam de o ser, para correr a apressadamnte para uma vida encantada. Pensam!
Um texto muito lindo Leninha.
A subtilidade das maravilhosas escolhas que fazes
Grande abraço
Leninha querida, quando comecei a ler achei que fosse seu esse texto, então essa vontade em tê-lo escrito se fez aqui... Um lindo conto, tantas mudanças no tempo guardadas nesse diário...
Que bom que estamos em sintonia, começamos no domingo, e estamos bem animados, tive a impressão que sinto menos fome na hora do almoço, mas vamos esperar mais um pouco para concluir qualquer coisa, e a quantia que optamos é por ser mais preventivo, achamos que assim será melhor...
Obrigada pelas suas palavras sempre cheias de carinho...
Beijos e o cházinho de capim limão foi muito bem vindo.
Su.
Outros tempos, outra forma de viver o amor...mas sempre o amor como motor da vida!
Belíssimo texto.
Beijos.
Texto maravilhoso Leninha!
Gostoso de ler, de sentir, me transportei para a estória, amei, como amo tudo por aqui...beijinhos no coração sempre minha linda amiga.
Um texto magnífico, sem dúvida! Também eu gostaria de o ter escrito...
Beijos
Lita
Oi, Leninha querida,
Sem dúvida um texto muito belo, suave, delicado, mas que nos faz dar tratos à bola, né não?
Quando será que aquela mocinha de antigamente se descobriu feliz de verdade? E quando esta, de hoje, terá certeza de sua felicidade? Alguém tem?
Bjsssssssssssss, quérida!
Muito lindo!!beijos,praianos,chica
Leninha querida,,, Obrigada pelas palavras tão carinhosas em meu blog.
Voce nao escreveu o texto...,as bem que podia te-lo escrito!
amei...
bjs
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