SEJAM BEM VINDOS!!!


quarta-feira, 11 de julho de 2012

UMA CRÔNICA DO JORNAL "O TEMPO"


Laura Medioli

Publicado no Jornal OTEMPO em 08/05/2012

A
A
Sob véus do passado

Mais uma vez, olha a fotografia em sépia em que uma moça bonita de olhar profundo lhe sorri.

Moça que, aos 17 anos, saiu da fazenda para a cidade. Iria se casar. O noivo, nove anos mais velho, filho do amigo do pai. Gente de posses, família renomada, de boa índole, como gostava de dizer a mãe chorosa e antecipadamente saudosa da única filha, que iria partir.

Menina-moça, mais menina que moça, acometida de inquietações, curiosa sobre o jovem a quem, tão logo conheceu, já fora prometida.

- Mãe! Como irei me casar com um homem que vi apenas uma vez?

Deixar a casa, a família... Viver com pessoas que nem sequer conhecia?

Inutilmente, tentava fugir do destino que haviam lhe reservado.

Na mala, os poucos pertences. A camisola de cambraia branca, com rendas e botõezinhos em forma de flor.

- Esta é para a noite! - explicava a mãe, cheia de recalques na hora de dizer certas coisas. Ruborizada, sentou-se no quarto da filha, explicando a ela o que nunca soube quando se casou; assustada, saiu correndo do quarto e do pobre marido, 15 anos mais velho. 

Também na mala, o diário escrito desde que se aprimorou no jogo das palavras. Sua vida tranquila, ajudando nos afazeres, a escola para moças na cidade mais próxima, as colheitas, o curral...  As aulas de religião, bordado, francês e latim. Mesmo morando no "fim do mundo", desses caprichos o pai não abria mão.

Tantos anos se passaram, e o diário, castigado pelo tempo, assim como a fotografia, foi o que restou. O sorriso enigmático, perdido em dúvidas e ansiedades. O vestido de noiva feito em linho, os seios despontando tímidos sob os véus que lhe adornavam os ombros.

A jovem não entende por que a história de sua trisavó, escrita em letras miúdas, lhe atrai tanto. Guarda o diário como o bem mais precioso. Não somente os cabelos castanhos, mas também o delicado nariz e os olhos profundos se assemelhavam aos seus. Mas foi nas letras miúdas que descobriu as maiores semelhanças, a melhor herança...

No dia de se casar, sozinha em seu quarto, passeou os dedos sobre o vidro opaco que, há uma eternidade, protegia aquele rosto bonito.

Outros tempos, outro contexto. Nenhuma expectativa ou medo da "primeira noite", pois, intimamente, ela e o noivo há muito já se conheciam. Sua camisola, confeccionada em seda, nada de rendas e botões floridos. Não se mudaria para a casa da sogra, mas para a sua própria.

Não falava francês, não entendia latim, odiava mato e cheiro de esterco e, mesmo assim, no âmago da alma, sentia, claramente, que aquela moça, vinda de longe e da mesma origem, havia renascido nela. Sabia que era maluquice, por isso, nunca compartilhou sua certeza com ninguém. Olhou-se no espelho, ajeitando a grinalda de tule. Deu um sorrisinho bobo, sabendo que sua escolha era a mais certa. E que seu destino seria tão denso e promissor como o da mulher que a despertou para a vida. E, assim, feito ela, seria feliz, muito feliz!
LAURA MEDIOLI escreve no Magazine às terças-feiras. laura@otempo.com.br


Um texto que eu gostaria de ter escrito.Muito lindo!!!
Espero que gostem,amigos. 

13 comentários:

O meu pensamento viaja disse...

E foram felizes para sempre!
Muito lindo.
Beijo

Eloah disse...

Lindo!Também eu gostaria de ter escrito um texto tão encantador e delicado.Parabéns pelo lindo Post.Bela escolha.
Tenhas dias ensolarados.Bjs Eloah

lis disse...

Gostei Leninha
Uma crônica rica em detalhes e com aquela ternura próprio do primeiro amor.
Obrigada da partilha
Fique bem , deixo meu abraço

Jo Turquezza disse...

Quem seria mais feliz? A moça de hoje ou a de ontem?
Já temos as resposta.
Mas será que a de hoje arca com o peso de tanta novidade, e tendo que fazer tudo ao mesmo tempo?
Beijos querida.

maria selma disse...

Leninha fiquei muito feliz com sua visita ,já sigo aqui...
O texto é lindo....
Beijos de luz,,,,

manuela barroso disse...

Outros tempos, outras atitudes, outras certezas.
E os encantos deixam de o ser, para correr a apressadamnte para uma vida encantada. Pensam!
Um texto muito lindo Leninha.
A subtilidade das maravilhosas escolhas que fazes
Grande abraço

Anônimo disse...

Leninha querida, quando comecei a ler achei que fosse seu esse texto, então essa vontade em tê-lo escrito se fez aqui... Um lindo conto, tantas mudanças no tempo guardadas nesse diário...

Que bom que estamos em sintonia, começamos no domingo, e estamos bem animados, tive a impressão que sinto menos fome na hora do almoço, mas vamos esperar mais um pouco para concluir qualquer coisa, e a quantia que optamos é por ser mais preventivo, achamos que assim será melhor...
Obrigada pelas suas palavras sempre cheias de carinho...

Beijos e o cházinho de capim limão foi muito bem vindo.

Su.

Mona Lisa disse...

Outros tempos, outra forma de viver o amor...mas sempre o amor como motor da vida!

Belíssimo texto.

Beijos.

Teresa Brum disse...

Texto maravilhoso Leninha!
Gostoso de ler, de sentir, me transportei para a estória, amei, como amo tudo por aqui...beijinhos no coração sempre minha linda amiga.

L.M. disse...

Um texto magnífico, sem dúvida! Também eu gostaria de o ter escrito...
Beijos
Lita

Brechique da Dodoca disse...

Oi, Leninha querida,
Sem dúvida um texto muito belo, suave, delicado, mas que nos faz dar tratos à bola, né não?
Quando será que aquela mocinha de antigamente se descobriu feliz de verdade? E quando esta, de hoje, terá certeza de sua felicidade? Alguém tem?
Bjsssssssssssss, quérida!

chica disse...

Muito lindo!!beijos,praianos,chica

MA FERREIRA disse...

Leninha querida,,, Obrigada pelas palavras tão carinhosas em meu blog.
Voce nao escreveu o texto...,as bem que podia te-lo escrito!

amei...

bjs