quarta-feira, 31 de outubro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Beethoven - Sonata ao Luar (Moonlight Sonata)
Minha muito querida Manu,
A pintura é poesia silenciosa,
a poesia é pintura que fala.
Simônedes de Ceos
(poeta grego, c.556-468 AC)
Laços de afetos nos unem, Manu,os laços misteriosos do carinho que nos ensinam os caminhos estrelados que conduzem à sincronicidade e à harmonia,e à esperança que reacende no fundo azul do peito o dom da infância.Vieste do outro lado do oceano e me cativaste, tuas mãos teceram poemas e carinhos, fizeste uma menina dos caracóis à infância retornar,com seus sonhos a reviver... nas cores de tuas rosas trouxeste o afeto que tem um brilho próprio no grande painel dos sentires humanos...nas palavras doces de teus poemas trouxeste os laços tênues, às vezes fortes como um abraço, mas que não prendem, são leves, para manter um objeto de afeição.
Hoje é teu aniversário,Manu. O que posso te desejar? O que posso te oferecer? De minha janela descortino a mata e gostaria de te oferecer este verde salpicado pelo brilho do sol...debaixo de minha janela um sabiá laranjeira entoa o seu canto e como eu queria ter o poder de ofertar-te este canto...é primavera e eu gostaria de te entregar todas as rosas, miosótis, gerânios,lírios e papoulas que florescem em todos os jardins...e mais os aromas de giestas,amapolas e jasmins...
Um menestrel eu enviaria para cantar debaixo de tua janela doces e suaves melodias, uma harpa tocaria uma sonata quando passasses e um bandolim executaria uma sonora e pungente canção ao deitares a cabeça em teus luares.
A noite se adianta e em breve os raios de sol estarão a te despertar...que seja um despertar feliz de sonhos alvissareiros. E, fazendo minhas as tuas palavras:
O sol me convidou
a sentar
na sua casa
bronzeando-me de pétalas.
senti-me uma flor com asas
Depois vestiu-me
de nuvens
fui princesa por um dia
manto bordado
de estrelas
num reino de fantasia!
Que assim seja!
Com um carinho meu.
...........................................................................................................................................................
Manuela Barroso é poeta, autora do livro Inquietudes e possui três blogs:
Anjo Azul
http://anjoazul.blogspot.com
Reflexões floridas
e Sabores de Anjo Azul
A pintura é poesia silenciosa,
a poesia é pintura que fala.
Simônedes de Ceos
(poeta grego, c.556-468 AC)
Laços de afetos nos unem, Manu,os laços misteriosos do carinho que nos ensinam os caminhos estrelados que conduzem à sincronicidade e à harmonia,e à esperança que reacende no fundo azul do peito o dom da infância.Vieste do outro lado do oceano e me cativaste, tuas mãos teceram poemas e carinhos, fizeste uma menina dos caracóis à infância retornar,com seus sonhos a reviver... nas cores de tuas rosas trouxeste o afeto que tem um brilho próprio no grande painel dos sentires humanos...nas palavras doces de teus poemas trouxeste os laços tênues, às vezes fortes como um abraço, mas que não prendem, são leves, para manter um objeto de afeição.
Hoje é teu aniversário,Manu. O que posso te desejar? O que posso te oferecer? De minha janela descortino a mata e gostaria de te oferecer este verde salpicado pelo brilho do sol...debaixo de minha janela um sabiá laranjeira entoa o seu canto e como eu queria ter o poder de ofertar-te este canto...é primavera e eu gostaria de te entregar todas as rosas, miosótis, gerânios,lírios e papoulas que florescem em todos os jardins...e mais os aromas de giestas,amapolas e jasmins...
Um menestrel eu enviaria para cantar debaixo de tua janela doces e suaves melodias, uma harpa tocaria uma sonata quando passasses e um bandolim executaria uma sonora e pungente canção ao deitares a cabeça em teus luares.
A noite se adianta e em breve os raios de sol estarão a te despertar...que seja um despertar feliz de sonhos alvissareiros. E, fazendo minhas as tuas palavras:
O sol me convidou
a sentar
na sua casa
bronzeando-me de pétalas.
senti-me uma flor com asas
Depois vestiu-me
de nuvens
fui princesa por um dia
manto bordado
de estrelas
num reino de fantasia!
Que assim seja!
Com um carinho meu.
...........................................................................................................................................................
Manuela Barroso é poeta, autora do livro Inquietudes e possui três blogs:
Anjo Azul
http://anjoazul.blogspot.com
Reflexões floridas
e Sabores de Anjo Azul
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Segundo pesquisa na web, o Prêmio Dardos foi criado pelo espanhol Alberto Zambade, escritor, que em 2008, no próprio Blog, concedeu o Selo de Prêmio Dardos a 15 Blogs selecionados por ele.
Estes Blogs, segundo Alberto Zambade fazem a diferença e tem por
finalidade transmitir valores culturais, éticos, literários,
interpessoal e, de certa forma, contribuem com criatividade, pensamento e
palavra, ou seja, é a marca pessoal, impressão do autor do Blog.
Dessa forma, é concedido por indicação de um outro Blog o Selo Dardos.
O Blog indicado, também, concede este Selo para outros Blogs que fazem a diferença.
TUDO A VER foi indicado pelo Blog Sapatinhos de Doroty da querida Sandra Puff
http://sapatinhosdedorothy.blogspot.com
Agradeço à querida Sandra e muito honrada me sinto.
Como não posso escolher, por receio de privilegiar alguns, em detrimento de outros, quero oferecê-lo a todos os meus amigos que por aqui passarem e garanto que me sentirei muito bem se um grande número de amigos o aceitarem.Bjsssssssssegunda-feira, 22 de outubro de 2012
RECEBI POR E-MAIL--- De minha querida MANUELA
Mia Couto - Geração à Rasca - A Nossa Culpa
"Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca? Existe mais do que uma! Certamente! Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos. Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada. Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou. Foi então que os pais ficaram à rasca. Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado. Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais. São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração. São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar! A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas. Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados. Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional. Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere. Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam. Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras. Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável. Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada. Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos! Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós). Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida. E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!! Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens. Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles. A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço? " -- *uma visão bem ao estilo de Mia Couto* -- Para quem não sabe Mia Couto é um biólogo e escritor moçambicano * Wikipédia |
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Um pouco do Pão e Poesia
O tempo pode te rabiscar o rosto
Pode te pratear os cabelos
Mas não deixe que o tempo te apague o viço
Nem te adormeça o riso
Conserva teu jeito de olhar macio
Tua capacidade de sonhar
Pode te pratear os cabelos
Mas não deixe que o tempo te apague o viço
Nem te adormeça o riso
Conserva teu jeito de olhar macio
Tua capacidade de sonhar
Guarda em ti tuas vontades mais absurdas
Teus desejos infantis
Tuas manias sem sentido
Conserva tua poesia, teu amor proibido
Reserva também tua indignação, tua rebeldia
Guarda tua teimosia
Não te acomodes com as voltas do tempo
Renova-te a cada manhã, a cada pão
Por dentro, não deixe o tempo te roubar a vida.
Ana Luiza Fireman
Teus desejos infantis
Tuas manias sem sentido
Conserva tua poesia, teu amor proibido
Reserva também tua indignação, tua rebeldia
Guarda tua teimosia
Não te acomodes com as voltas do tempo
Renova-te a cada manhã, a cada pão
Por dentro, não deixe o tempo te roubar a vida.
Ana Luiza Fireman
terça-feira, 16 de outubro de 2012
a festa à qual fomos,para a comemoração dos 40 anos do SESI em Barbacena.
Decoração magnífica de uma antiga cerâmica, cujos fornos e chaminés foram tombados pelo Patrimônio Cultural da cidade.
Parabéns, Barbacena e parabéns à família Bonato, pela excelência do Espaço e pela generosidade ao proporcionar um local de entretenimento de tão alto nível à sociedade barbacenense.
Foi uma noite inesquecível.
sábado, 13 de outubro de 2012
Da Página: Pão e Poesia
Esta é uma página muito linda do Facebook. Adorei e por este motivo resolvi partilhar com vocês este belo e sugestivo poema.
Ainda estou na casa de meu filho e à noite iremos a um baile em uma belíssima casa de festas da cidade.
ACERTO COM O TEMPO
Andei de cara amarrada com o tempo
Também... ele cismou de fazer rabisco torto no meu rosto
Inventou de apagar minha certidão de nascimento
Andei de cara amarrada com o tempo
Também... ele cismou de fazer rabisco torto no meu rosto
Inventou de apagar minha certidão de nascimento
Resolveu desbotar minhas fotografias
Pior: o tempo decidiu me comer
Primeiro, aos poucos, pela beirada, sem que eu sentisse
Depois aos bocados, com dentadas rasgadas, abocanhadas homéricas
Quase um banquete!
Mas que tolice a minha comprar briga com o tempo!
Foi quando me veio a ideia de fazer as pazes:
Ok, tempo, hei de matar a sua fome
Pode me consumir, mas, por favor, não me devore de uma vez
Vale saborear com gosto, comer de garfo e faca, educadamente
Sem pressa
Vale um tempero regado a alecrim e outras especiarias
Põe açúcar mascavo no meu coração
Pior: o tempo decidiu me comer
Primeiro, aos poucos, pela beirada, sem que eu sentisse
Depois aos bocados, com dentadas rasgadas, abocanhadas homéricas
Quase um banquete!
Mas que tolice a minha comprar briga com o tempo!
Foi quando me veio a ideia de fazer as pazes:
Ok, tempo, hei de matar a sua fome
Pode me consumir, mas, por favor, não me devore de uma vez
Vale saborear com gosto, comer de garfo e faca, educadamente
Sem pressa
Vale um tempero regado a alecrim e outras especiarias
Põe açúcar mascavo no meu coração
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
sábado, 6 de outubro de 2012
A moça Tecelã
A Moça Tecelã
Por Marina Colasanti Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. |
Depois lãs mais vivas,
quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha
nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário,
e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias,
os jardins. Depois desteceu os criados e o
palácio e todas as maravilhas que continha. E
novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando
a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não
teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o
desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito
aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a
moça escolheu uma linha clara. E foi
passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do
horizonte.
Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei, mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em amor, Contos de amor rasgados, Aqui entre nós, Intimidade pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do ser, A nova mulher (que vendeu mais de 100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente, O leopardo é um animal delicado, Esse amor de todos nós, Gargantas abertas e os escritos para crianças Uma idéia toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de vento. Colabora, também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.
Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000, uma colaboração da amiga Janaina Pietroluongo, da longínqua Oxford.
Ilustração:
Ana Peluso
Ana Peluso, paulistana, 37 anos no dia cinco de março de 2003,
casada, um filho, formada em Comunicação e Programação Visual, escreve desde os 18
anos. Abandonou a faculdade de letras pelo desenho e as artes visuais. Aprendeu a desenhar
e voltou a escrever. Atua na rede como webdesigner, ilustradora e colunista e colaboradora
em vários sítios há mais de 4 anos. Dedica-se em tempo parcial ao desenvolvimento e
conteúdo da Officina do Pensamento, destinado à
divulgação de arte e literatura e escreve por pura vocação, enquanto prepara seu
primeiro livro de contos. O resto do tempo usa para pintar, escrever, curtir a família,
além do teatro, música e cinema, outras de suas paixões.
Possui participação em três Antologias: “As Crônicas dos Anjos de Prata, Vol II”.- 2001, “Os Anjos de Prata - Antologia de Crônicas e Contos, Vol III” – 2002, e “Antologia Poetrix” – 2002. |
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© 1996 —O RELEITURAS — UM SÍTIO SEM FINS LUCRATIVOS — tem como objetivo divulgar trabalhos
de escritores nacionais e estrangeiros. Aguardamos dos amigos leitores críticas, comentários e sugestões.
A todos, muito obrigado. Arnaldo Nogueira Júnior. ®@njo
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