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domingo, 25 de setembro de 2011

REMINISCÊNCIAS DE UM TEMPO FELIZ

Uns dos melhores anos de minha vida eu os vivi em Dores de Campos,bela e acolhedora cidade do meu estado natal Minas Gerais,que eu tanto amo.Na época,trabalhei com alunos do antigo Curso Primário,na E.E."Duque de Caxias",de 1979 até 1986.De início,com classes regulares de alfabetização e,mais adiante,com Classes Especiais...trabalho gratificante,embora árduo,mas exercido com entusiasmo,carinho e dedicação.
       Eu era exigente...quando a hora era de brincadeira,tudo bem,vamos brincar,mas na hora de estudar estudava-se de verdade,afinal tinha muita coisa para ensinar...ou despertar a curiosidade,mola mestra de toda aprendizagem.As cranças não possuiam a fartura de material escolar de que dispôem os alunos atualmente.As cartilhas utilizadas,antigas e ultrapassadas.O que fazer?Sempre fui e sou,até hoje,uma pessoa que não se conforma com as coisas,que não aceita situações ditas "irremediáveis".Fui,então,
fazer uma visita à Biblioteca da escola e encontrei uma quantidade enorme de uma cartilha excelente,exemplares novos,ainda embalados.O nome da cartilha Casinha Feliz:“A Casinha Feliz” é mais do que uma cartilha. É um conto infantil que mostra a vida de uma família e se desenvolve através de teatro, jogos e brincadeiras. Por isso, a sala de alfabetização se transforma num espaço interativo de aprendizagem, sonho de todo educador. As crianças se envolvem na experiência fascinante da leitura e da escrita e os resultados são alcançados com rapidez e eficácia.
O método proposto pela “Casinha Feliz”, gestado ao longo de muito estudo e observação do comportamento infantil é, na sua essência, lúdico.
No entanto, o que há de completamente novo e diferente no método é que as letras são personagens da história e aparecem associadas a imagens que sugerem sons: as figuras – fonema.
No uso da figura – fonema, reside o segredo da eficácia deste método.
Nele é essencial o surgimento da letra como personagem que tem vida, características próprias e que pode ser vista, escutada, tocada, apalpada, sentida, acariciada e até cheirada pelas crianças. Alguns têm, mesmo, sua canção ou seu perfume e todas, com exceção da “cadeirinha” (que é o h), têm seu barulhinho que é o som característico do fonema.
Interessante é observar quão moderna é a proposta desse método criado há mais de quarenta anos: as letras são personagens que, integrados à vida cotidiana ou servindo a histórias fantásticas, dialogam com as crianças e com os adultos que vivem na “Casinha Feliz” e com as crianças e os adultos na sala de aula.

     Confeccionei o material para utilizar com ela(vogais e consoantes) em papelão de caixas conseguidas nas fábricas.E era uma alegria ver as crianças aprendendo por meio da diversão!
     Após trabalhar durante 3 anos com a primeira série,recebi de minha Diretora a proposta de ensinar aos alunos de Classe Especial,primeira experiência a se iniciar no Estado e um grande desafio para quem não tinha uma formação específica.Aceitei e me dispus  a enfrentar uma nova experiência em minha vida.
    E esta aceitação me fez iniciar o período mais gratificante de minha vida em termos de realização profissional.Ver aquelas crianças "fadadas ao fracasso"ou como diz Milan Kundera "aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado  como mérito ou fracasso.Diante de uma situação que nos é imposta é preciso encontrar a atitude certa"  ver aquelas crianças desabrochando dia após dia,a cada pequeno passo dado,uma grande vitória,foi como o sucesso de um artista na conquista do melhor papel de sua vida.
    Não havia material didático nenhum.Continuei a adotar a mesma cartilha e o alfabeto por mim confeccionado.Como era um método lúdico,com personagens da vida cotidiana as crianças se identificavam e era uma aprendizagem realmente FELIZ.
     Foi durante o meu primeiro ano como professora de Classe Especial,que surgiu em minha vida,uma pessoa que deu um novo sentido à minha rotina profissional.Um amigo levou à minha casa,o Secretário da Embaixada da Austrália,o qual realizava um trabalho com as escolas carentes do Nordeste,repassando verbas para as mesmas.Vendo a situação precária,a pobreza de meus alunos,a escassez absoluta de material didático apropriado,fez um relatório,enviou-o à Embaixada e conseguiu para minha sala uma verba especial.Com ela pude comprar tudo que os alunos necessitavam desde material de higiene pessoal até roupas e calçados para eles!
E foi uma festa quando chegou um caminhão com estantes,cadernos,livros de histórias,gravadores,discos com os mais variados gêneros musicais,toca fitas,eletrolinha portátil,lapis de todas as cores,carimbos e a nossa sala se encheu de música,sonho e esperança.
       Com esta ajuda providencial pude dar continuidade a um trabalho que durante alguns anos foi a razão maior de minha existência.

        Mesmo com todas as dificuldades do início,sinto que valeu a pena e tenho consciência de ter dado minha modesta contribuição para esta comunidade e seu povo.

8 comentários:

Luna Sanchez disse...

Fiquei emocionada, coisa que acontece constantemente quando visito teu blog, Leninha.

Beijo, querida.

Caca disse...

Leninha, tenho certeza de que se não houve nenhuma intempérie de cunho social mais grave nesse período posterior, esse meninos (hoje homens e mulheres) devem viver uma vida de grande valor humano e devem ser-lhes gratos até hoje. A gente não se esquece dessas professoras nunca. Parabéns e o meu abraço. paz e bem.

Anônimo disse...

Leninha, estou emocionada com seu relato e encantanda mais ainda com você. Sua experiência é um exemplo pra nós professores, queria levar seu relato pra esse país, onde tantas pessoas precisam saber dessa força que existe em nós... Amiga, posso levar seu relato comigo? Sabe, eu vejo tantos professores se queixando de tudo e de todos, mas não os vejo "realizando", não os vejo buscando saídas, alternativas... Sei que nosso papel não é fácil, mas as crianças nada tem a ver com isso... e acabam pagando o preço de certas frustrações de tantos educadores... Sei das limitações, mas com relatos como o seu, vejo que não é preciso "desistir", pelo contrário, vamos buscar o verdadeiro sentido na nossa profissão... Claro que eu espero e desejo um país mais justo para todos, mas enquanto isso não acontece, façamos a nossa parte com amor!
Beijos minha amiga!

Lindo dia!

E obrigada pelos ensinamentos daqui... sempre!

Su.

Ivani disse...

Ora, ora dona Leninha, estou tão emocionada que chorei.
Essas historias me comovem demais!
Que bela mulher você é (e foi) !
Esses aluninhos devem lembrar-se de você com todo amor e respeito.
Eu te respeito mais a partir de agora.
Já admirava, agora respeito.
Uma mulher como você mereçe toda nossa admiração e carinho.
E abençoado seja aquele secretario que se condoeu da situação e ajudou você e as crianças.
Li também a postagem anterior e me vi recebendo uma tia vaidosíssima que eu também tive. A querida era cheirosa e muito linda, principalmente para os meus olhos de criança.
Lindas postagens, conte mais, sua vida é muito rica.
Beijos, boa semana.

Helena Chiarello disse...

Que barato, Leninha!!
Eu lembro dessa cartilha!
E esse texto é o maravilhoso relato de uma experiência vivida com amor e dedicação!
Que bom ler isso!
Um beijo e meu carinho e admiração sempre gigantes, amigamada!

manuela barroso disse...

Sei que és uma grande senhora!
Mas não sabia que foste também uma grande mulher!
É preciso muito amor, muita dedicação,um altruísmo fora do comum, para teres na tua vida esta linda história de vida. E o quanto esses teus aunos te devem agradecer Leninha!Fiquei maravilhada! Conta mais! Sei que deves ter mais histórias lindas para nos contar!
E quando estavas junto às margens do rio! Como era ele? Clamo ou com cachoeiras!
Parabéns pela tua história, Leninha!
Grande abraço

O meu pensamento viaja disse...

Leninha tive dificuldade em entrar e nem li a sua mensagem.
Estou comentando apenas, pois você também foi premiada com a presença do vilão.
O meu computador foi checado e está limpo, no entanto, de quando em vez o aviso vermelho surge.
Que inferno!
Beijo, querida
Nina

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida Leninha
Também trabalhei com crianças especial nos 7 primeiros anos de magistério...
Lindo aprendizado de verdadeiros valores...
Bjm fraterno